(Des)ordem.

Já não tenho a estabilidade à qual sempre me podia agarrar, já não tenho a satisfação aparente de saber quem sou … sempre estive atulhada de filosofias peculiares, mas talvez acabasse por viver preceitos absurdos por esbarrar nas ambições dos outros e achar que também deveriam ser as minhas.

Dizes que me roubas juízo, mas na verdade ajudas-me a deixar a lucidez da vida em lume brando, a largar tudo de vez em quando e prender-me ao essencial.
O tempo passa: as pessoas vêm e vão. Mas entre as certezas nulas que tenho, atrevo-me a dizer que tu ficas. Dás-me mais de ti do que julgas, e se por acaso uma de nós se distancia, ambas sabemos que podemos voltar e tudo permanece na mesma.

Talvez seja pela tua intempérie de emoções, por desprezares frequentemente o teu lado demasiado lúcido e por não exigires de mim um comportamento exemplar que gosto tanto de ti. Gosto de ti e apego-me, mas também não espero nada de ti. Por isso, agradeço o muito que me dás sem eu nada esperar e deixares-me ser eu contigo.

Ficar? Ficas no coração, e sei que estás para quando eu precisar. E até lá, pode soar estranho, mas adoro essa tua não perfeição e deixo de parte a minha tendência para me preocupar com as pessoas. O que seria preocupante era não ter com quem me preocupar! Descobri que a tua pancada afinal é saudável como a minha e tenho pena de ti que agora não quero outra coisa.

Adoro-te, Beartiz! Mas sabes, não preciso de o dizer, porque o sinto ;)

En mi me encajo.

Me lo dices tú que es cosa buena y te lo digo yo para que lo sepas. Me encantan los que viven ilusiones, me encantan los que viven reposados. 
 
Pero te lo digo de verdad, que no creo que exista ni el amor ni la pasión. En esto mundo lo intentamos todo, buscando el escenario reluciente. Nos vemos delante de gente que no conocemos e nadie nos conoce a nosotros. Así nos acogemos en nuestras fantasías, como extraños en nuestra propia soledad, e a nadie se le ocurre que en ella nos encajamos.
La sociedad lo proyecta e la sociedad lo enreda. No, no estoy de broma ni de tontería. No, no soy una criatura terráquea sin cabecita que no crea en nada que asiente en el valor de las relaciones humanas. Solo tengo mis propias invenciones, distintas de las demás. Y no es por eso que no soy sensible o que oculto mis sentimientos. Llego a querer-les más. Porque si no les pongo un nombre, todo me parece más cierto.


(não, não estava com saudades do espanhol. mas desafio aceite é desafio cumprido! :b)

Luckily I wont be in trouble.

You've been there all along
Holding my hand like you do.
Why do I feel that it's wrong
To love to be around you?
I call you my friend
May that be the bitter end.

(saudades do inglês).

Incógnito.


 Percorro o trilho inevitável
 Presa na ânsia de aventura
 Este medo que perdura...
 Medo de coisas estranhas.

 Tenra ocasião me afasta
 Do que o oculto dá asas
 Portas do Reino de Esparta
 Decerto não quero fechá-las.

 Minha é a voz que ressoa,
 De quem ao querer quer ceder.
 Que seja boa a pessoa,
 Que seja ledo o terraço,
 Mas não para esta voz que ecoa
 Pois no tempo ofusco esvoaço.

 Na corrente de vidas aprisionadas
 Com tantas afamadas nulidades
 E meras intenções partilhadas,
 Dispenso frivolidades.

 Essas ambições badamecas.
 Sim, que ao inútil só chegam.
 O ávido levam ao desterro:
 Que raio de emperro!

 Este traçado fútil
 Manso vem enquanto rio.
 Esboço que não me perfaz
 Tenho medo...
 Medo do seu poderio.

 Porque não deixar para trás
 Tão apreciada garantia?
 Rumar sobre qualquer pendor,
 Esquecer preceitos de geografia,
 É andar a outro sabor.

 Assim o descontrolo acontece
 E no frágil ser irrompe
 Mas rápido desaparece...

 Nesta vida que é peneira
 Pelo menos sou inteira.

Elevador.

Com um olhar ansioso no vidro que nada deixa transparecer, saio, estonteada.
À esquerda, um bando de colegas cujos rostos e feições já entendo. Rapidamente me apercebo de quem se trata.
Em frente e pouco mais além, degraus gélidos e rostos cortados pelo andar de cima.
À direita, a porta de fachada que dá para a realidade.
E assim afasto com um vigoroso empurrão a porta do ascensor, dou um passo em frente e ando para o lado esquerdo, instintivamente.
Engraçado como dizem que quando dou por mim um milímetro fora do elevador, olho para tudo e todos, em todas as direcções.
Talvez queira que ninguém passe despercebido. Talvez seja apenas a minha personalidade inquieta. Ou … talvez goste de saber o que me espera. Mas não deixo de sorrir antes de o saber.
Engraçado que mesmo antes do olhar agitado que os contempla, já eu estou a sorrir. Também notam! Mas apenas sorriem de volta. 

TEIMOSIA.

Sou teimosa. Mas não é uma teimosia altiva, ignorante ou estapafúrdia.

Se me contrariam irracionalmente, me confrontam com absurdos e me tentam deter com noções incoerentes, sou bem capaz de barafustar, de bramir, de berrar, de bramar, e outros vocábulos iniciados pela letra “b”.
Não me deixo ficar, não me deixo apagar, não perco a razão quando estou segura de que a possuo.

 
Também não discuto no despautério de enxovalhar quem quer que seja, nem por mero passatempo. Não me dá prazer contrariar e aborrecer os outros. Estes simplesmente me aborreceram a mim primeiro.
Da mesma maneira que se ocasionalmente me disserem algo disparatado ou cujo carácter erróneo me seja evidente, não desato a saltar, a estremunhar, a pinchar, ou a agredir quem a mim se dirigiu!

 
Paciência, paciente; tolerância, tolerante; condescendência, condescendente; humanidade; humana. Não me são substantivos, adjectivos obscuros! Aliás, penso carregá-los sempre comigo.
Mas é difícil quando não possuem o mesmo espécime de teimosia que eu. Sou bem capaz de dar o braço a torcer e de não ficar isenta de absolvição, mas há quem não seja!

 
Enquanto nutrir sentimentos por quem me rodeia, ouvirão sempre uma refutação ou resposta. Enquanto viver de emoções e impulsos, haverá sempre contestação. Quando a infelicidade e a apatia que governa este covil me aniquilar ou me desiludirem até à indiferença, aí afastar-se-á e desaparecerá a voz que agora ressoa.


Se discuto, é porque amo! Se desvio e aterro com frieza, é porque me afasto!

“Vais ter que engolir muitos sapos ao longo da vida” – talvez, mas aí deixarei de ser eu.

- Posso-te pedir uma coisa ?
- Diz lá...
- Prometes que não te vais chatear ?
- (O silêncio, e uma reacção efémera mas de reprovação emerge)
- Dás-me um beijinho ?

Brincadeira espontânea mas algo verdadeira. Tudo o que queremos é uma demonstração de carinho, alguma afectividade não circunstancial para que se torne perfeito. E a vida é feita disto... de brincadeiras e de carinho.